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CARTA ABERTA DOS ALUNOS E ALUNAS DO CURSO DE MESTRADO EM ESTUDOS AFRICANOS DO Iscte – Instituto Universitário de Lisboa – [DIVULGAÇÃO]

“Foi com profunda indignação e tristeza que o corpo discente do curso de Mestrado em Estudos Africanos (MEA)do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa tomou conhecimento dos atosde vandalismo nas instalações de nossa universidade e de outras instituiçõesde ensino de Portugal, que foram pichadas com frases racistas e xenófobas.Nós, alunos e alunas do curso do Iscte, repudiamos veementemente tais manifestações contrárias à Lei Fundamental e aos Princípios Universais de Direito.

As expressões criminosas e criminosamente escritas nas paredes das instituições de ensino do país, não só atingem as pessoas racializadasa que foram dirigidas: “pretos”, “brazucas” e “ciganos”, mas são uma afronta a todas as pessoas que entendem que o racismo estrutural que está entranhado nas sociedades modernas desumaniza, violenta, faz adoecer e mata. Por isso mesmo, deve ser repudiado e combatido com toda a intensidade. Todos somos visados com tais atuações, toda a sociedade e, consequentemente, toda a humanidade.

Há alguns meses houve um manifesto no Brasil organizado pela CoalizãoNegra por Direitos, que se intitulava “Enquanto houver racismo não haverá democracia”. Nós, corpo discente doIscte, do curso de Mestrado em Estudos Africanos, vimos a público reiterar esta afirmação e dizer que, enquanto Portugal não combater o racismo reconhecendo que é uma violência de ordem estrutural, não haverá democracia, nem educação, nem paz.

Enquanto não for reelaborada uma proposta pedagógica para o ensino português que desconstrua a narrativa dos “descobrimentos” que é atualmenteensinada nas suas escolas, vamos continuar a ser desafiados por tais grupos e ter de resistir contra a discriminação das nossas múltiplas identidades étnicas e de género.

Em pleno século XXI e depois do que a História nos contou ao longo dos séculos não podemos mais aceitar o racismo e repudiamos esta violenta, vergonhosa e infeliz atitude e afirmamos fortemente que atos como estes não são compatíveis com a sociedade portuguesa que é cosmopolita e recebe imigrantes e estudantes estrangeiros todos os anos. Uma sociedade que também tem, por sua vez, emigrantes em todos os cantos do mundo.

Compreendemos que é de responsabilidade doIscte e de todas as instituições de ensino combaterem qualquer forma de discriminaçãoracial, xenófoba, de género, religiosa e política. Pelo fato de estas manifestações estarem a ser recorrentes no interior da universidade, solicitamos às entidades competentes doIscte que construam connosco, alunos,Núcleo de Estudantes Africanos (NEA),professores e demais funcionários, um plano de ação onde, através do estudo, diálogo e de práticas pedagógicas, repensemos uma Universidade que amplie o debate para o combate ao preconceito racial e demais formas da discriminação.Tambémsolicitamos um ambiente seguro para todos os alunos e alunas, que indiretamente foram ameaçados, aumentando a segurança do campus da Universidade, exortandoàs autoridades de investigação policial competentes que ampliem os esforços necessários para identificar e alcançar os perpetradores de tais ignomínias.

Convidamos também os fautores destes atos hediondos que se apresentem perante nós, que connosco dialoguem,para que possamos todosviver de forma plural e multicultural.  Porfim, convocamos todos os movimentos antirracistas que têm atuado em Portugal, assim como as instituições de ensino, professores, estudantes, parlamentares, profissionais e a toda a população que não aceitem e nem se calem perante estes atos de vandalismo, praticados por indivíduos que não respeitam a vida e a sua diversidade, que atacam e destilam seu ódio, covardemente na calada da noite ou usando perfis falsos nas redes sociais, tentando impor o medo e a sua suposta “superioridade”, pois todas as vidas importam e devem ser respeitadas em sua plenitude!”

Alunos e Alunas do Curso de Mestrado em Estudos Africanos do ISCTE-IUL.

Lisboa, 03 de Novembro de 2020.

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